É comum, ao pensarmos na práxis psicanalítica, visualizarmos o setting tradicional, constituído por um objeto de amor: o divã. Entretanto, há um movimento crescente de psicanalistas brasileiros que buscam criar outros dispositivos clínicos, a fim de viabilizar a escuta psicanalítica em diferentes contextos.
Delimito essa escuta a partir dos conceitos fundamentais da psicanálise, mas ela vai além.
Vejo muitas semelhanças com a psicanálise com crianças, que também precisou ir além e sustentar outros dispositivos de trabalho para viabilizar a direção do tratamento.
Voltando às andanças dos psicanalistas pela cidade, que cada vez mais estão abrindo novos espaços de escuta, percebo que é necessário um grande jogo de cintura para manejar as transferências que o território impõe a alguns sujeitos, o que, como consequência, pode deslizar para o trabalho analítico. Isso se torna especialmente desafiador em contextos de situações sociais críticas, onde, por vezes, os agentes do Estado deixam de ver a presença de um sujeito, enxergando apenas corpos a serem descartados.
A potência da psicanálise reside no singular, em estar ali, no território, no meio da massa ou do grupo, apostando que, dali, poderá advir um sujeito.
Um sujeito que vive.
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